André Felipe
Lima
Bons
ventos começam a soprar na relação bilateral entre
Itália e Brasil. Se depender do ministro do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, acordos
comerciais entre os dois países já estão na pauta
de prioridades do comércio exterior do Planalto em 2005. Em entrevista
exclusiva à Comunita Italiana, o ministro, que é ítalo-brasileiro,
confessa que as economias dos dois países se complementam e que
há promissoras relações comerciais a serem exploradas
ao longo de 2005.
Para isso, ele cita números encorajadores. As importações
da Itália, por exemplo, cresceram 14,2%, passando de US$ 1,62
bilhão, em 2003, para US$ 1,85 bilhão, no ano passado.
“Nossas vendas para este país, de 34,5%, superou a média
geral das exportações, de 30%. A participação
da Itália na nossa pauta este ano aumentou para 3,1%, revertendo
a tendência de queda que vinha sendo observada desde 2000”,
assinalou o ministro.
Furlan antecipou também que o Governo vai intensificar a desburocratização
para abertura de empresas, com o lançamento, em um primeiro momento,
de uma ficha única, contendo todos os documentos solicitados
por inúmeros órgãos que participam do processo
de abertura de companhias.
Comunità
- O Brasil apresentou um índice de crescimento econômico
de 5,3% até setembro, o maior desde 95. O PIB, no último
trimestre de 2004, cresceu 6,1%. Há, especificamente, algum setor
decisivo para alavancar estes percentuais?
Luiz Fernando Furlan - O ano de 2004 deverá
ser visto como o ano da retomada do crescimento, principalmente pela
taxa de crescimento do PIB ao redor de 5% e o aumento da produção
industrial brasileira, que está em 8,3% no acumulado até
outubro, liderado pelo crescimento dos setores de bens de consumo duráveis
(22,7%) e de bens de capital (21,8%). Mas é preciso lembrar também
que as exportações no ano passado tiveram um crescimento
consistente de 30%, com um impacto importante em toda a economia e na
geração de empregos. Tudo indica que estamos caminhando
para uma proporção de exportação em relação
ao PIB bem superior aos patamares históricos de 15%. Estamos
prevendo para este ano algo em torno de 25% ou 30%.
Comunità - A Itália está em sexto
no ranking de acordos bilaterais com o Brasil. Alguns investidores italianos
em solo brasileiro alegam que há uma política que visa
mais a exportação do que a importação. No
caso da Itália, afirmam, isto estaria mostrando um acentuado
desequilíbrio na balança entre os dois países,
o que, futuramente, seria péssimo para o Brasil. Há fundamento
para este alarde? O Ministério dispõe de dados precisos
desta balança que possam comprovar o contrário?
Furlan - A Itália é umas das prioridades
da política comercial brasileira e parceira natural do Brasil,
até mesmo pelas afinidades culturais. Além disso, as economias
de nossos países apresentam grandes complementaridades e o potencial
a ser explorado em nossas relações econômico-comerciais
ainda é promissor. O Brasil é um país aberto ao
comércio exterior, que conta com uma tarifa média de importação
do País da ordem de 10,8%. No corrente ano, tanto as exportações
como as importações brasileiras estão crescendo
em nível próximo de 30% e, com a retomada do crescimento
econômico, as projeções são de continuidade
da elevação das importações. O governo brasileiro
tem plena consciência de que o crescimento da economia nacional
se dará através de uma maior abertura às trocas
internacionais, onde a importação é elemento fundamental
para a ampliação do investimento produtivo e aumento da
competitividade da produção industrial brasileira. Alguns
dados podem ilustrar melhor o recente desempenho do Brasil como mercado
importador. As compras externas brasileiras até novembro de 2004
totalizaram US$ 57,1 bilhões, contra US$ 44,3 bilhões
no mesmo período de 2003. O desempenho das importações
provenientes da Itália também crescerem 14,2%, passando
de US$ 1,62 bilhão, no ano passado, para US$ 1,85 bilhão,
em 2004.
Comunità
- Empresários e executivos italianos de ponta no Brasil também
afirmam que o atual governo vem priorizando acordos comerciais com Índia
e China em detrimento de antigos laços econômicos com países
europeus, principalmente a Itália, o que, de certo modo - frisaram
os executivos -, a redução das importações
de produtos europeus estaria favorecendo a moeda norte-americana, que
vem se desvalorizando com alta do euro nos últimos anos. Diante
desse cenário, qual seria, efetivamente, o mercado externo prioritário
da política econômica do Governo federal?
Furlan - O Brasil está diversificando mercados,
olhando para lugares que nunca eram visitados, mas não se esquecendo
de grandes parceiros como Argentina, Estados Unidos e União Européia,
incluindo aí a Itália. No ano passado, os maiores crescimentos
das nossas exportações ocorreram nas vendas destinadas
a regiões que não são as maiores compradoras de
produtos brasileiros, tais como a Ásia, a Europa Oriental e o
Mercado Comum Centro Americano. Podemos citar, por exemplo, o aumento
das vendas para países como República Eslovaca (+278%),
Bahamas (+284%), Geórgia (+125%) e Senegal (97%). Ou seja, estamos
assistindo a um importante processo de diversificação
no destino das exportações brasileiras e isto significa
que não pretendemos focar nossas vendas em apenas um único
mercado comprador. Queremos manter este ritmo de crescimento e isto
passa pela diversificação de países importadores
que compram produtos brasileiros. A Itália consiste importante
parceiro, tanto que, em 2004, o crescimento das nossas vendas para este
país, de 34,5%, superou a média geral das exportações,
de 30%. A participação da Itália na nossa pauta
no ano passado aumentou para 3,1%, revertendo a tendência de queda
que vinha sendo observada desde 2000. Já os produtos italianos
representam 3,26% de tudo o que compramos, o que mostra que não
há discrepância no comércio bilateral.
Comunità - Haverá surpresas agradáveis
para o pequeno e médio empresários no primeiro semestre
de 2005, como, por exemplo, redução de burocracia para
abertura de empresas ou alguma nova política para novos empreendedores?
Furlan - Trabalhar para reduzir a burocracia é
uma meta constante do nosso Ministério e a questão da
abertura de empresas vem sendo estudada há quase um ano por um
grupo interministerial criado pelo Presidente Lula. Temos interesse
em resolver o problema de forma rápida e eficiente, mas é
preciso lembrar que são mais de 20 órgãos envolvidos
no procedimento de abertura de empresas, que vão desde a Anvisa,
Ministério do Trabalho, Secretarias estaduais da Fazenda, Receita
Federal até Corpo de Bombeiros e prefeituras. É por este
motivo que o trabalho precisa ser conjunto, pois não adianta
as Juntas Comerciais levarem apenas cinco dias úteis para realizar
um registro se o interessado ainda precisa passar por mais diversos
órgãos, levar dezenas de documentos e preencher diversas
fichas. Estamos trabalhando para criarmos, em um primeiro momento, uma
ficha única, contendo todos os documentos que todos estes órgãos
solicitam, de forma a facilitar a vida do empresário. Também
estamos fazendo a integração eletrônica de todas
as juntas comerciais, para melhor se comunicarem entre si e com outros
órgãos. É um trabalho vultoso, mas que os resultados
deverão aparecer em breve. É preciso lembrar, porém,
que em 2004 já lançamos diversas iniciativas dentro da
Política Industrial voltadas para os novos empreendedores, inclusive
para redução de custos, como foi o caso do regime de Pré-empresa,
que concede tratamento tributário, previdenciário e trabalhista
especial ao empresário com receita bruta anual até R$
36 mil. Esta medida tem por finalidade a inclusão social do empreendedor
de baixa renda, com o objetivo de promover a formalização,
bem assim a sua inclusão no sistema previdenciário e trabalhista.