André Felipe
Lima
Oito
berinjelas pequenas; uma xícara de queijo parmesão ralado
grosso; um dente de alho bem picado; manjericão; óleo
de oliva... e por aí vai mais uma das dezenas de receitas que
formam a dieta mais badalada (e saudável!) de que se tem notícia.
Estamos falando da dieta do Mediterrâneo, ainda em expansão
no Brasil. As quatro câmaras italianas de comércio no país
começaram, no ano passado, uma ampla campanha para difundi-la.
Uma dieta que faz do povo italiano um dos mais saudáveis do mundo
e abre portas comerciais para a Bota.
As câmaras lançaram,
inclusive, um livro, “Mangiare italiano, buono e sano –
princípios da dieta mediterrânea”, em parceria com
vários restaurantes famosos no país por sua tradicional
culinária italiana. O livro mostra informações,
reconhecidas por médicos, que confirmam que o cidadão
italiano tem menos problemas cardiovasculares e mais longevidade do
que pessoas de outras regiões.
Vinhos e queijos são a marca
dessa culinária. No Brasil, por exemplo, já atingimos
a maturidade econômica nestes dois setores. O do vinho movimenta
anualmente cerca de R$ 1,2 bilhão. Segundo dados do Instituto
Brasileiro do Vinho (Ibravin), a última safra, em 2003, do vinho
brasileiro (finos, de mesa, espumantes e suco de uva) chegou a 360 milhões
de litros. Existem 700 vinícolas no país e 16 mil propriedades
onde se plantam uvas. Desse mercado, o Rio Grande do Sul controla aproximadamente
90%.
Nas exportações,
a liderança dos vinhos de mesa ainda é esmagadora (80%).
Já a produção de vinhos finos atingiu 50 milhões
de litros, embora o Brasil ainda importe muito mais do que exporte nesse
segmento vinícola, principalmente da Itália.
Apesar disso, as exportações
cresceram 42% até setembro de 2004, e deverão crescer
ainda mais este ano (20%) e em 2006 (30%). As empresas estão
atentas para a exportação de produtos mais sofisticados.
A Miolo, por exemplo, quer chegar a R$ 50 milhões em exportações
anuais em 10 anos.
Para isso, programas estão
sendo desenvolvidos nesse sentido. Um dos mais significativos é
um convênio entre a Agência de Promoção de
Exportações do Brasil (Apex) e a Ibravin orçado
em R$ 2,78 milhões, que vai financiar marcas de vinhos brasileiros
no exterior. As vinícolas Casa de Lantier, Casa Valduga, Cooperativa
Vinícola Aurora, Lovara, Miolo e Salton, todas sediadas no Rio
Grande do Sul, estão na lista do financiamento, mas, até
2006, a Apex espera ampliar para 12 o número de empresas no programa.
A Ibravin também associou-se
ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES),
ao Banco do Brasil e à Secretaria de Agricultura do Estado do
Rio Grande do Sul para desenvolver os chamados Arranjos Produtivos Locais
(APL’s) – também conhecidos como clusters –
que vão incrementar ainda mais a produção vinícola
no país. Modelo genuinamente italiano, os APL’s são
responsáveis por cerca de 43% das exportações da
Itália e empregam mais de 2 milhões de trabalhadores em
90 mil empresas.
A Itália, aliás,
intensificou sua preocupação com a marca de seu vinho
no exterior. Tanto que funciona desde 2003 a Enoteca d’Italia,
que dispõe de 20 milhões de euros para promover os vinhos
italianos através do mundo.
Se a relação bilateral
com a Itália no mercado de vinho vai bem, no mercado de queijos
e no de azeite de oliva é mais tímida.
O Brasil hoje é um grande
importador de azeite de oliva, mas cerca de 50% de sua compra são
feitos na Espanha. Mais arrojada e auto-suficiente, a indústria
de queijo no Brasil movimenta R$ 110 milhões por ano. São
20 mil toneladas de queijos que consomem 2 bilhões de litros
de leite e empregam 37 mil pessoas na produção. Minas
Gerais responde por 60% da produção nacional. Importar
queijo da Itália, porém, não é uma das principais
características do mercado brasileiro e tampouco exportar em
larga escala para cá está longe da meta dos italianos.
As vendas de parmesão italiano,
por exemplo, totalizaram, em média, nos últimos dois anos
cerca de 900 milhões de euros. O Brasil, ao contrário
do que se imagina, não está na lista dos principais compradores
do parmesão italiano. Mercados da própria Europa são
hoje os principais consumidores. Ao contrário da Itália,
os Estados Unidos vêm abrindo há cinco anos frentes no
mercado brasileiro para seus queijos, principalmente o cheddar e cream
chesse, cujas vendas aqui crescem, aproximadamente, 5% ao ano.
O objetivo das Câmaras Ítalo-brasileiras
é de que a dieta do Mediterrâneo ajude a cultivar o comércio
de produtos destes três setores e seduza alguns dos milhões
de oriundi em terra brasilis para aquela que é uma das mais saudáveis
formas de se alimentar.
Aliás, viver de forma saudável,
como o fazem italianos, sempre foi um mistério, principalmente
para os americanos. Logo após a Segunda Grande Guerra, o médico
Ancel Keys desembarcou em Salerno, norte da Itália, e constatou
que a população local não sofria de problemas cardiovasculares,
comuns nos Estados Unidos. Keys, entre 1958 e 1964, concluiu um estudo
em países da Europa, Japão e Estados Unidos. Resultado:
a dieta do Mediterrâneo é decisiva para vida de quem mora
no litoral europeu, principalmente na Itália, que ocupa o primeiro
lugar em longevidade na Europa, Grécia e Iugoslávia.
Uma coisa é, porém,
irrevogável: Keys vive até hoje, com 100 anos, e sua esposa,
com 95. Lépidos e fagueiros graças à dieta do Mediterrâneo.