Edição do mês de abril de 2000

"Meu sonho é ser cidadã italiana"

Bisneta de italianos provenientes da Lombardia, a atriz Ana Paula Arosio, 24 anos, é a protagonista da novela "Terra Nostra", que segundo ela, conta um pouco da história de sua própria família. A atriz morou na Itália por seis meses em 1996, onde deixou muitos amigos dos quais guarda muitas saudades. Apesar de não ter dupla cidadania, a paulistana garante que foi criada sob hábitos e princípios das tradicionais famílias italianas e que estabelece com a Itália uma relação de carinho e nostalgia: "tem uma parte de mim que é de lá", afirma. Ana Paula Arosio já emprestou seus belos olhos azuis à mais de 200 revistas nacionais e estrangeiras, outdoors e estrelou dezenas de comerciais de TV. Em entrevista ao Comunità - minutos antes de começar a gravar mais algumas cenas de Terra Nostra,- Ana Paula provou, com muita naturalidade, porque tem o rosto mais fotografado do país: além de sua inegável beleza, ela é dona de uma simpatia contagiante. Com inúmeras participações em filmes, novelas e peças de teatro, a atriz está trilhando uma brilhante carreira artística e é um dos talentos preferidos de diretores como Antonio Abujamra, que está montando um espetáculo especialmente para ela. Na sexta entrevista da série que o Comunità faz com o elenco da novela, Ana Paula Arósio nos conta um pouco de sua vida profissional e de sua relação de amor com a Itália.

Comunità - Qual é sua ascendência italiana? Conte-nos um pouco sobre a imigração de sua família.

Ana Paula Arosio - Sou bisneta de italianos. Meus bisavós vieram ao Brasil para trabalhar em uma fazenda, como na história da novela. Meu avô e meu pai nasceram nessa fazenda, que fica em Araras, interior de São Paulo.

Meu avô já era bem sucedido na fazenda, mas achou que fosse um grande lance sair daquele fim de mundo e ir para a cidade. Seus amigos diziam que a cidade estava oferecendo boas oportunidades. No fim, isso revelou-se uma grande besteira. Ele era um homem do campo. Só sabia trabalhar com a terra e não se adaptou à cidade. Acho que é por isso que até hoje eu sinto necessidade de estar no campo, de trabalhar com a terra. Eu crio cavalos em Itu, São Paulo, o que pra mim, além de uma paixão, é a maneira de estar ligada ao campo e à terra.

Comunità - Como é sua relação particular com a Itália? Já visitou a região de onde saíram seus antepassados?

Ana Paula - Já visitei a região. Meus antepassados saíram da Lombardia, perto de Milão. Já vi até uma rua com o nome de via Privata Arosio. Achei muito bonitinho. Minha relação com a Itália é de carinho e nostalgia. Tem uma parte de mim que é de lá. Já morei seis meses na Itália e me sentia em casa. Circulava livremente pelo local e já falava a língua. Deixei muitos amigos, de quem estou morrendo de saudades.

Comunità - Você voltaria a morar na Itália?

Ana Paula - Claro! Eu tenho todos os hábitos italianos. Adoro vinho, massas...Eu adoraria voltar à Itália, ficaria em qualquer lugar, pois não existe lugar ruim por todo aquele país.

Comunità - Há hábitos italianos presentes no cotidiano da sua família? E por falar nisso, você tem cidadania italiana?

Ana Paula - Olha, meu grande sonho é ter cidadania italiana, mas infelizmente eu não consegui porque alguns papéis necessários para isso se extraviaram. Tenho vontade de ter a cidadania e vou me dedicar mais a isso. Hábitos italianos... acho que um pouco de tudo. Meu pai molhava pão no vinho para dar aos filhos, mas a minha mãe brigava e fazia aquele vinho especial sem álcool para as crianças. Meu pai dizia que tínhamos que aprender a beber vinho para ficarmos fortes. Ainda tem toda a coisa da comida, das massas. Ainda mais eu, que sou um "bom garfo", não nego. São sagrados alguns hábitos, como a confraternização da família em volta da mesa e a comemoração de datas especiais como o aniversário da minha mãe. Acho engraçado que a minha família é pequena, eu só tenho um irmão, o Marcos, mas os "agregados" são inúmeros. O Natal lá em casa é uma festa cheia de gente, como nas tradicionais famílias italianas. Tem também a maneira de criar os filhos. Meus pais são descendentes de camponeses italianos. As filhas são criadas para casar. É uma família conservadora, com hábitos bem conservadores.

Comunità - Você mantém vínculos com sua família na Itália?

Ana Paula - Não. Nem conheço.

Comunità - Já falava italiano antes de começar a novela? O que acha da língua, cultura e história do povo italiano?

Ana Paula - Já falava italiano. Fui à Itália em 1996 e fiquei seis meses. Foi muito gostoso. Aprendi italiano e um pouco mais da cultura do povo, mas vim para o Brasil e não pratiquei mais a língua. Não tive mais como praticar. Voltei a falar italiano para fazer novela. Não conheço muito da história. Já a cultura... estive lá, vivi e gostei muito. Apesar do povo italiano ser de uma cultura antiqüíssima, é também um povo muito moderno. Eles têm mentalidade arrojada, não têm medo de ousar. Acho isso muito importante. É fundamental para o crescimento de um povo.

Comunità - Como é ser a protagonista de uma história que fala de suas próprias origens?

Ana Paula - É muito gostoso, muito legal. Faz a gente pensar um pouco nas dificuldades que essas pessoas enfrentaram e também em como era a vida naquela época. Era completamente diferente. As coisas eram mais complicadas e ao mesmo tempo simples. Disse há pouco que meu avô não devia ter saído da fazenda. Mas pensando bem, com a vida que levavam, é claro que deviam ter saído. Ele ousou como todo bom italiano.

Comunità - Como você analisa a história de Terra Nostra? Acha que está sendo fiel à imigração italiana?

Ana Paula - O Benedito é muito conhecido por dar um panorama histórico fiel às suas histórias. Algumas coisas são simplificadas, claro, para popularizar a novela. A novela retrata as dificuldades básicas das pessoas da época, o que serve de pano de fundo para mostrar o romance todo que se desenvolve a partir disso. A novela ainda acompanha a vida política do país. Os italianos também participaram de todas as crises da época e da vida cultural e social do país. A ficção retrata bem isso.

Comunità - O jornal italiano "Corriere della Sera" publicou uma matéria há dois meses falando sobre o sucesso da novela e sobre a "Itália-mania" que se instalou no Brasil desde que "Terra Nostra" começou. Você esperava tanto sucesso?

Ana Paula - Acho que a Itália-mania sempre existiu no Brasil. Isso porque a imigração italiana é muito forte no país. A cultura italiana é forte no Brasil. A alimentação, nosso jeito, enfim. O brasileiro em geral – mesmo que não seja descendente – tem uma ligação muito grande com a Itália. Se perguntarmos na rua quem quer conhecer a Itália, todos respondem que sim. A novela tornou isso mais público. Quem não conhecia o italiano e está vendo agora, está louco. A Itália tem um apelo romântico irresistível.

Comunità - No entanto, uma parcela da comunidade italiana mais tradicional anda reclamando desse troca-troca de casais na novela, alegando que na época isto não acontecia.

Ana Paula - Eu sei disso e até entendo, mas em se tratando de novela não dá para fazer uma história sem trama e desentendimentos, porque senão perde a graça. É muito difícil um par romântico, por mais que se ame desde o início da