Edição do mês de maio 2001

Fluminense: dirigente é exemplo de torcida italiana no Brasil

O superintendente de futebol Paulo Angioni fala do futebol brasileiro, da reabilitação do Fluminense e de sua origem italiana

O Palácio das Laranjeiras, imponente construção em estilo francês, é motivo de orgulho para o Fluminense, o time que, em sua história, ficou conhecido por abrigar os torcedores da elite do Rio de Janeiro. Motivo de semelhante satisfação é este carioca da gema, descendente de napolitanos e calabreses, que vem trazendo o profissionalismo para o time e é um dos responsáveis pela reabilitação do tricolor nas competições. Paulo Sérgio Scudieri Angioni, 54 anos e 26 de futebol, formado em sociologia, é superintendente de futebol do Fluminense. Começou sua carreira no Clube Municipal, que não tinha futebol de campo, apenas de salão. Professor, Angioni, como é chamado, foi para o Vasco em 79 e permaneceu lá até 93. Nesse período, serviu à seleção em 89 e 90, nas eliminatórias da Copa América e na Copa da Itália como supervisor de futebol. Em 93, foi para o Flamengo e, em 97, foi para o futebol paulista, atuando pelo Corinthians. Em 1998 ingressou na Parmalat. Chegou ao Fluminense em agosto de 2000, trazendo Asprilla, uma das esperanças de gol tricolor e todo o know-how assimilado da experiência em uma multinacional que prima pela organização, competência e resultados. Angioni sempre foi um dos apaixonados tricolores descendentes de italiano, seja pelas cores semelhantes às da bandeira italiana ou por pura simpatia ao tradicional clube das Laranjeiras. No mês em que o Fluminense disputa, entre os primeiros colocados, os títulos da Copa do Brasil e do Campeonato Carioca, o professor Angioni cedeu essa entrevista ao Comunità.

Comunità - Além da bandeira tricolor, que outro fato o senhor poderia citar para explicar a paixão italiana pelo Fluminense?

Paulo Angioni - Não sei. Eu, por exemplo, sou tricolor em função da família. Ela era toda tricolor, fundamentalmente ligada a parte da minha mãe, que é a maior. Ela havia, na oportunidade, dez irmãos, sendo sete homens e três mulheres, todos torcedores do Fluminense. Quer dizer, as pessoas que entraram na família, como eu, sobrinhos e netos, fomos nos tornando tricolores também, porque era uma família que estava sempre reunida.

Comunità - Então, depois de ter passado pelo Vasco, Corínthians e Palmeiras, você pode afirmar que trabalha no time do coração?

Angioni - É, eu sou um profissional do futebol, mas antes de me tornar profissional, o clube pelo qual eu torcia sempre foi o Fluminense. Em função disso, da família.

Comunita – Você conhece a história de imigração de sua família?

Angioni - Isso aí é uma curiosidade que eu nunca tive. Já tenho necessidade de tê-la, mas as informações preliminares são de que a Angioni (lado paterno) é de Nápoles e a Scudieri, é da Calábria.

Comunità - Acostumado a trabalhar em times brasileiros que têm toda uma tradição de desorganização e burocracia, como foi a experiência na Parmalat, uma multinacional sólida e organizada?

Angioni - Trabalhei para a empresa, inicialmente no projeto Palmeiras e depois no projeto Palmeiras e Juventude. Entrei para coordenar todo o trabalho da Parmalat junto ao Palmeiras. Num determinado momento, houve uma necessidade de eu estender um pouco o meu braço para alcançar também o Juventude, e assim o fiz. A experiência foi excelente. Talvez tenha sido o melhor crescimento profissional que tenha obtido, apesar de só ter trabalhado em grandes "marcas". Mas esse estágio que tive na Parmalat me deu uma oportunidade muito grande de ver formatos diferentes de como se conduzem as coisas, de como se faz... a firmeza de posições, a determinação pelo objetivo, o planejamento de lucro futuro, a visibilidade do produto, quer dizer, para mim, foi muito bom. Quem dera eu pudesse ser aproveitado e ser transferido para o Parma, na Itália, o que seria a melhor experiência para mim!

Comunita - Para sair da Parmalat você recebeu uma proposta mais interessante do Fluminense?

Angioni - Não, porque o projeto lá estava encerrando e eu apenas precipitei a minha saída. A minha saída deveria ter se dado em dezembro de 2000, mas eu a precipitei e saí no final de julho. Até porque já havia um processo de desgaste por ter a Parmalat já, previamente, anunciado a sua saída do futebol. Quer dizer da co-gestão Palmeiras, porque do Juventude já havia saído inclusive através de mim. Mas a saída do Palmeiras já havia sido antecipadamente dita e, com isso, não havia mais propósito de se continuar e a Parmalat talvez, naquele momento, não tinha a necessidade de ter um executivo ali. Então precipitei a minha saída, mas meu relacionamento com a empresa foi o melhor possível. Tive uma relação muito boa. Tenho até saudade desse relacionamento, que é completamente diferente daquele do dia-a-dia dos clubes de futebol.

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