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Italianos
mostram força nos EUA
Fundação de ítalo-americanos dita lista de nomes
dos embaixadores e pressiona Bush
A
influência italiana não se manifesta apenas nos países
mais pobres ou em desenvolvimento, como Brasil ou Argentina. Os Estados
Unidos, primeira potência mundial, também sofrem influência
da Itália, principalmente através da Fundação
Nacional Ítalo-Americana (Niaf), a mais importante organização
de ítalo-americanos. O lobby da Niaf é tão poderoso
que foi uma imposição sua a lista de candidatos para assumir
a Embaixada norte-americana em Roma. A condição indispensável
para fazer parte da lista é ter origem e sobrenome italianos.
O esquema foi mostrado na edição de maio da revista italiana
L'Espresso.
No dia 23 de março reuniu-se na sede da Niaf, na 19ª avenida
em Washington, a cúpula dos diretores. O assunto principal era
a escolha do novo embaixador, que irá administrar os 300 empregados
americanos e outros 350 italianos, que representam mais de 30 agências
governamentais norte-americanas e três sucursais. Uma semana antes,
Frank Guarini, uma espécie de superpresidente, enviara uma carta
ao presidente George W. Bush, em protesto pelo fato de a sede da via
Veneto estar destinada a Rockwell Schnabel, executivo nascido na Holanda.
Guarani, 77 anos, é um poderoso advogado em New Jersey, um estado
onde os ítalo-americanos são 20% da população.
Ano passado doou 750 mil dólares à Universidade da cidade
de Jersey: em troca, a biblioteca será intitulada com seu nome.
Ex-deputado do Congresso por sete legislaturas, ele afirma que a guerra
da Embaixada pode ser vencida. Também está convencido
disso Joseph Cerrell, de 66 anos, presidente da Niaf e seu cérebro
político. O californiano Cerrell, como Guarini, é um político
e lobbista experiente que conhece todos os meandros de Washington.
No entanto, ambos são democratas (Cerrell trabalhou com John
F. Kennedy), atualmente do partido da oposição norte-americana.
Assim, para aquela reunião, os líderes democratas da Niaf
chamaram os republicanos da organização. "O nome
de Schnabel ainda não tinha sido oficializado, portanto havia
uma margem de manobra", explicou à L'Espresso Cerrell. Juntos
tomaram uma decisão operativa: Patricia de Stacy Harrison e Joseph
Del Raso foram encarregados de esclarecer a Bush e ao seu chefe de estado,
Clay Johnson, que "seria do interesse do presidente" recuar
e deslocar Schnabel para outra sede. Os dois não são personagens
que gostam de aparecer em público, mas têm as portas abertas
na Casa Branca.
Stacy Harrison, nova-iorquina moradora de Washington, até a pouco
era a vice-diretora do Comitê Nacional Republicano, o órgão
que conduziu a campanha eleitoral de Bush, com a incumbência de
administrar o fundo de doações de campanha. Del Raso,
advogado da Filadelfia, é um republicano de longa data. Para
os ajudar, foi chamado Dominic Massaro, juiz da Corte Suprema do Estado
de Nova York (e amigo de Silvio Berlusconi). E, uma vez que quase todos
os 25 milhões de ítalo-americanos são católicos,
uma carta a Bush do cardial de Nova York Edward Egan também veio
bem a calhar.
Niaf só
aceita nomes com origem italiana
Estendendo o elenco dos candidatos,
a Niaf enviou a lista à Casa Branca, não sem antes recordar
a Bush que daqui a quatro anos há eleições e que
a maioria dos ítalo-americanos apóia os republicanos.
O primeiro da lista era Charles Cargano, assessor de Economia e Desenvolvimento
do estado de Nova York, que ajudou o governador George Pataki a vencer
Mario Cuomo, recolhendo 15 milhões de dólares para a campanha.
Apesar da fama de bom administrador, Gargano tem uma desvantagem: foi
investigado pelo procurador distrital Robert Morgenthau. A investigação
foi arquivada, mas todos se recordam de uma história de 1999
que custou a demissão de seu braço direito e ghostwriter,
Paolo Palumbo. O elenco prosseguia com Frank Stella, empreendedor de
Detroit e criador da aliança entre ítalo-americanos e
judeus. É amigo de Luciano Pavarotti e foi conselheiro de todos
os presidentes republicanos, de Nixon ao Bush pai.
A lista continuava com Lucio Noto, ex-vice-presidente da Mobil Oil e
homem chave da indústria petrolífera, tida em alta consideração
por Bush. Depois havia William Martini, republicano de Nova Jersey,
ex-deputado do Congresso, e ex-amigo de Newt Gingrich, naquele tempo
o guru dos conservadores. Sua desvantagem é que em uma campanha
eleitoral usou expressões racistas contra os hispânicos.
Fechava a lista o neurologista Kenneth Ciongoli. Considerado o mais
brilhante entre os líderes ítalo-americanos, era grande
amigo do campeão de beisebol Joe Di Maggio. A sua proposta: aumentar
o número de ítalo-americanos nas universidades mais prestigiadas,
de Harvard a Yale, aquelas onde se forma a elite que governa o país.
Mas por que para os ítalo-americanos é tão importante
ter "um dos seus" como embaixador de Roma? "É
uma questão simbólica. E é um direito conquistado
há 12 anos. E depois, acontece que na sede da via Veneto deve
estar alguém que conhece bem a Itália", responde
Guarini. Em coro, Cerrell acrescenta que "somos como os armênios
e os judeus: temos um fortíssimo laço com a terra de origem".
Enquanto ainda não se chega a uma conclusão, o militar
William P. Pope permanece na Itália como embaixador interino.
Ele assumiu a Embaixada de Roma em 7 de setembro de 1999, deixando a
Embaixada Americana de Hague, na Holanda, que chefiava desde 1996. Pope,
que fala francês, russo, servo-croata e italiano, nasceu em Alexandria,
Virginia, e serviu na Agência Previdenciária das Forças
Armadas de 1969 a 1970 e continuou como reservista até 1974.
Também serviu na Faculdade Nacional de Guerra de 88 a 89 e no
curso de treinamento de oficiais do Departamento de Defesa, "Capstone",
em 1995.
Guerra
contra estereótipos na TV
Para crescerem num país
onde muitas vezes são discriminados, os italianos na América
aprenderam a dar muito valor à instrução. Por
isso, 20% do orçamento anual da organização,
de cinco milhões de dólares, são gastos em bolsas
de estudo. E os jantares para arrecadar fundos para mais bolsas se
repetem a cada semana nas seções locais da Niaf. Os
líderes da Fundação também dão
muita importância ao que é veiculado na mídia.
Protestam contra a maneira que os ítalo-americanos estão
representados nela. O último alvo foi a série de TV
"The Sopranos", acusada de mostrar estereótipos racistas
de italianos mafiosos. Todos se preocupam em assinalar e fichar tudo
de positivo e de negativo que se escreve sobre os ítalo-americanos
nos jornais. Talvez essas batalhas signifiquem que os italianos não
se sintam ainda em casa na América, apesar do sucesso pessoal
que muitos vêm obtendo. Como é o caso de Richard Grasso,
presidente da maior Bolsa do mundo, a New York Stock Exchange e um
dos vice-presidentes da Niaf.
Laboratório
da Fiocruz chefiado por italiano faz descoberta capaz de combater meningite
O
Laboratório de Bioquímica de Proteínas e Peptídeos
do Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz, chefiado pelo genovês Salvatore
Giovanni De Simone, desenvolveu um peptídeo (pedaço de
proteína) capaz de destruir a bactéria causadora da meningite
meningocócica, a Neisseria meningitides. O Poli-Leu, que seria
utilizado em forma de spray por via bucal, rompe a parede celular (em
poucos segundos) e penetra na membrana formando poros que permitem a
liberação do conteúdo citoplasmático, provocando
a morte da bactéria. Agora, o laboratório trabalha na
substituição da parte central do Poli-Leu por outra substância
mais comum e barata, que permita a popularização da descoberta.
Motivado pela descoberta, o laboratório do Departamento de Bioquímica
e Biologia Molecular (DBBM), junto com o Instituto de Química
e o Centro de Ciências da Saúde, da UFRJ, a UENF e o Departamento
de Fisiologia e Farmacodinâmica (também da Fiocruz), está
pleiteando recursos de cerca de R$1 milhão na Faperj para o desenvolvimento
de uma rede de laboratórios voltados para o estudo de Proteomas,
a versão do genoma para as proteínas. "O Proteoma
complementa o genoma e ajuda ainda a identificar as proteínas
cujos genes (cerca de 30%) são um mistério. O Proteoma
pretende desvendar isso através de um amplo trabalho multidisciplinar,
que vai contar com profissionais de informática, química,
física, biologia e medicina", explica Giovanni De Simone.
De Simone nasceu em Gênova, em 1950, após um vai-e-vem
indeciso dos pais entre Itália e Brasil. Após o término
da Segunda Guerra (quando todos os homens da família foram enviados
para destinos diferentes) e do seu nascimento, a família voltou
definitivamente ao Brasil, fugindo da crise econômica da Europa
pós-guerra. Seu pai, brasileiro, filho de italianos, trabalhou
com obras e também numa fábrica de laticínios no
Brasil. Já sua mãe, nascida em San Lutida, na Calábria,
seguindo as tradições, se dedicou à família.
De Simone graduou-se em biologia pela Uerj, cursou pós-graduação,
mestrado e doutorado pela UFRJ e pós-doutorado na Universidade
de Nova York.
Paralelamente, os pesquisadores do laboratório, estudando as
proteínas de Leishmânia, causadora da Leishmaniose Visceral,
isolaram um grupo de moléculas que apresentam propriedades estruturais
particulares, diferindo das proteínas de mamíferos e possuem
algumas características semelhantes às do HIV. A partir
daí, desenhou-se e obteve-se um produto peptídico que
ajuda no diagnóstico diferencial da leishmaniose visceral. A
doença infecciosa, conhecida como calazar, infectou quase quatro
mil brasileiros no ano passado, segundo a Fundação Nacional
de Saúde (Funasa). Ela acomete principalmente nas populações
rurais, mas está em fase de franca urbanização.
Mais perigosa do que a leishmaniose cutânea (que forma lesões
na pele), a visceral afeta o fígado, o baço e a medula
óssea, causando crescimento do abdômen, enfraquecimento
e febre. Apresenta alto índice de letalidade se não tratada
adequadamente.
A estratégia utilizada é semelhante ao que foi desenvolvido
para inibir a ação da HIV-protease, que resultou na criação
do coquetel anti-Aids, o primeiro no mundo desenvolvido por modelagem
molecular. O estudo aprofundado das proteínas de Leishmânia
(Proteoma) deverá ser executado em conjunto com pesquisadores
da Universidade Federal de Pernambuco, que iniciaram o desenvolvimento
do genoma da Leishmânia com financiamento de R$3 milhões
do CNPq. "Além disso, estamos terminando de seqüenciar
as proteínas-alvos e estudando o desenvolvimento de drogas alternativas,
por modelagem molecular (transposição das seqüências
para programas de computador e simulações de reações),
para que possam inibir a atividade metabólica do parasita",
afirma Giovanni.
A
FORÇA DA NATUREZA
Uma ilha no coração do mediterrâneo
O
mar tem uma cor única e pode ser contemplado ao longo de cerca
de um milhão de quilômetros de costa. À primeira
vista, a água límpida e as praias desertas de seu recortado
litoral encantam o visitante. Mas a Sicília oferece bem mais.
Lá coexistem cenários construídos pela natureza
dadivosa e vestígios da presença de diferentes povos ao
longo dos séculos, fazendo da ilha do sol, do limão e
da máfia um privilegiado ponto de encontro entre natureza, tradição
e arquitetura.
Destino de turistas do mundo inteiro, a Sicília conta com uma
variada herança histórica e cultural, deixada por gregos,
romanos, vândalos, ostrogodos, bizantinos, árabes, normandos,
espanhóis e franceses. As invasões do passado influenciaram
a língua, as danças, as festas, a culinária e o
artesanato. Por isso, em toda parte, o visitante se depara com a antigüidade,
sendo possível vivenciar mais de 2500 anos de história
e mistérios.
Além da variedade cultural, os contrastes físicos e geológicos
também impressionam. A natureza desenhou magníficas costas
rochosas, planaltos com cultivo de oliveiras de mais de dois mil anos
e um clima bastante ameno, se comparado ao do resto da Europa. Em contrapartida,
encravou, no noroeste da ilha, um vulcão, o Etna, que, de tempos
em tempos, provoca a destruição de cidades e plantações
com suas erupções. Mas também desenha lindas paisagens
com sua lava solidificada, oferecendo um espetáculo de imagens.
É difícil estimar o número de visitantes que chegam
no verão siciliano. Só os italianos são mais de
6,5 milhões. Nesta época, as atividades culturais como
festivais de música, cinema, shows e programações
especiais de cidades e hotéis agitam a ilha. É também
no verão que ocorrem as principais festas folclóricas,
com desfiles de roupas tradicionais, procissões e feiras.
A porta é
Messina
Para se chegar à ilha pega-se uma balsa em Reggio di Calábria
e atravessa-se o estreito de Messina, que separa a Sicília do
continente por apenas três quilômetros. A cidade que deu
nome ao estreito é a principal porta de chegada dos europeus
e ficou famosa pelo impetuoso terremoto que a arrasou, em 1908. Reurbanizada,
Messina ainda lembra a tragédia que atingiu mais de 60 mil pessoas.
Nesta província se encontra Taormina, um dos balneários
mais famosos de toda Europa. A cidade é conhecida ainda por receber
o Festival Internacional de Cinema, um dos mais prestigiosos da sétima
arte, durante o mês de agosto. Outra atração, no
caminho para Catânia, é o preservado teatro grego do século
3 a.C., de onde se pode ter uma espetacular vista do mar com o monte
Etna ao fundo.
Catânia é
fértil
Na
base do vulcão Etna, a cidade aprendeu a conviver com o fascínio
e o temor pelo maior vulcão ativo da Europa. Além das
constantes invasões que passaram pela cidade, Catânia é
marcada pelos freqüentes terremotos e derramamentos de lava do
Etna. Agora mesmo, suas erupções têm causado pavor
e um rio de lava se aproxima ameaçando a população.
Mas também oferece um espetáculo a cada dia, e muitos
são os turistas que querem ver de perto. Em dias mais tranqüilos,
pode-se subir à montanha do Etna, que hoje é parque regional,
até a cratera, de onde se observa sua força e imponência.
Durante o percurso é possível visitar algumas cavernas
que se formaram devido à cristalização das lavas
provenientes das erupções que se deram através
dos séculos. Com sorte, aproxima-se da lava, ou ainda observa-se
a neve eterna formada dentro de cortes profundos e conservada pela altitude
dentro de verdadeiros frigoríficos naturais. As vilas nos arredores
do vulcão ficaram famosas pela fertilidade de suas terras, onde
se encontram vinhos com sabores incomparáveis.
Mas Catânia é uma das maiores e mais agitadas cidades sicilianas,
menor apenas que a capital Palermo. A cidade é considerada a
Milão da Sicília pela prosperidade e os muitos negócios.
Assim como Messina, ela sofreu um forte terremoto em 1697. O trauma
para os cateneses da época foi tão profundo que até
hoje é possível encontrar placas da época na cidade
lembrando o acontecimento e alertando os habitantes de hoje sobre o
perigo.
Foi esse mesmo evento tão forte que também marcou a profunda
devoção dos habitantes da cidade. Todos os anos, na primeira
semana de fevereiro, se realiza a festa de Sant'Agata, que segundo estudiosos
italianos, é uma versão cristã do mito antigo Isis.
A procissão, uma das maiores e mais tradicionais da Itália,
é vista como uma forma de mostrar devoção à
santa da cidade e pedir proteção contra o Etna e os terremotos.
Palermo numa concha
Embora nunca tenha sido ocupada pelos gregos, a origem do nome da
cidade vem do grego Panormos (porto de todos). Desde sua fundação,
pelos fenícios, a capital siciliana sempre foi um disputado
entreposto comercial do mediterrâneo.
Palermo fica em um anfiteatro natural chamado Conca d'Oro (Concha
de Ouro), protegida entre os montes Pellegrino e Alfano. É
marcada por uma interessante mistura de traços europeus e orientais,
com a presença de estilos árabe, normando e barroco.
A capital, com 730 mil habitantes, tem como centro o antigo porto
de La Cala, hoje transformado em três marinas de onde se pode
ter uma bela vista da baía. A cidade antiga fica um pouco afastada
do litoral, onde antigamente o mar chegava.
Uma boa pedida é conhecer as igrejas da cidade construídas
nos mais diversos estilos. No Palazzo Reale, também conhecido
como Palazzo dei Normani, a construção iniciada pelos
árabes foi a residência dos dominadores normandos e sede
do poder na Sicília desde a dominação bizantina
até hoje. Ao lado do palácio está a Cappella
di Ruggero, construída em 1134, com a incrível mistura
de mosaicos bizantinos, arquitetura árabe e normanda.
Um lugar impressionante em Palermo são as Catacumbas dos Capucinos,
não indicadas a quem tem medo de lugares sombrios. Nas suas
numerosas galerias subterrâneas estão pelo menos oito
mil cadáveres de pessoas ilustres que viveram entre os séculos
17 e 19. Muitos estão reduzidos a esqueletos. Outros, mumificados,
permanecem lado a lado, alguns sentados, alguns de pé. A maior
parte veste ainda as roupas de gala que trajavam em vida.
Não há nenhum produto químico especial que impeça
a decomposição. Os cadáveres se mantêm
em bom estado por causa do sistema natural de ventilação
das galerias. No passado, a distração dos palermitanos,
aos domingos, era visitar os entes queridos nas catacumbas para verificar
se continuavam inteiros. Os cadáveres que não resistiam
ao tempo eram recompostos pacientemente por meio de arames e envoltos
em panos brancos. Por causa desses cuidados, muitos cadáveres
do século 19 estão em excelente estado, com as roupas
praticamente intactas.
Arredores de
Palermo
Mondello pode ser considerada a praia de Palermo (em torno de 10 km)
e também um dos mais conhecidos resorts da Sicília,
com vista para um castelo mouro do século 10, na pequena cidade
vizinha de Carini.
Localizadas acima da praia de Addàura, no Monte Pellegrino,
que desce até Punta di Priola, e meio escondidas entre o verde,
estão as grutas de Addàura, cavernas de grande interesse
paleontológico. Notam-se figuras humanas e de animais desenhadas
nas paredes, datadas do período Paleolítico.
Se o visitante se estender um pouco mais pela rodovia estadual, há
uns 12km de Carini, passando por Punta Ràise, encontrará
Terrasini, cidade com 10 mil habitantes que vive de pesca e agricultura.
Lá se encontra o Museo Civico, dividido em três seções:
história natural, arqueologia e etno-antropologia, que inclui
o museu de carros da Sicília.
Agrigento é
a cidade dos templos
O nome da cidade mais ao Sul da Itália vem do antigo nome grego
Akgras. Sobre a opulência da cidade e a fartura dos cidadãos,
Empédocles escreveu: "os agrigentinos constróem
templos como se não morressem nunca e comem como se fossem
morrer no dia seguinte". As marcas deste passado pujante podem
ser vistas até hoje no impressionante Vale dos Templos, um
conjunto arquitetônico onde se concentram imponentes construções
capazes de transportar ao cenário de 2500 anos atrás.
São vários templos, com histórias e características
diferentes. A principal referência de todo o sítio arqueológico
agrigentino é o templo da Concórdia, o monumento mais
bem conservado de toda a Magna Grécia, edificado no século
5 a.C. Outro que esbanja opulência é o Templo de Giove
Olimpico, um imenso edifício erguido sob a ordem do ditador
Terone. Tinha uma superfície de 6340 metros quadrados, e foi
certamente uma das construções dóricas mais grandiosas
da época. O Templo de Eracle é o mais antigo entre os
construídos em Akgras, datado de 520 a.C. Ocupa uma área
de cerca de 1700 metros quadrados, inferior somente ao imenso Giove
Olimpico. O de Esculapio, dedicado ao deus da medicina, já
foi rota de peregrinação dos enfermos e sofredores.
Da praça Marconi é possível admirar todo o vale
sobre o horizonte azul do Mediterrâneo.
Outras obras arquitetônicas dão testemunho do passado.
A província de Eraclea Minoa constitui um parque arqueológico
fascinante, onde é possível contemplar o anfiteatro
grego que remonta ao século 4 a.C. Nas construções,
observam-se várias fases da arte na era cristã, como
a Igreja Medieval de Santa Maria dos Gregos, erguida por volta do
século 13, a Basílica de São Francisco de Assis,
do período Barroco, e o Palácio do Relógio, em
estilo gótico, datado de 1851, onde funciona a atual sede da
Câmara de Comércio.
O poeta Pindaro classificou Agrigento como a mais bela cidade dos
mortais. Não bastassem os monumentos e a atividade cultural
e artística intensa, ela também oferece praias paradisíacas
que, como tudo mais, deixam os visitantes maravilhados.
Siracusa, onde
nasceu a máfia
Mais poderosa e importante cidade da Grécia entre os séculos
5 e 3 a.C., Siracusa é famosa por ser sede da máfia,
que defende os interesses de um grupo e se sustenta à base
de ações ilegais. A origem mais provável é
a do árabe mahfal (reunião de muitas pessoas) e de mahyas
(proteger, defender alguém de alguma coisa).
Segundo os historiadores, a máfia teria surgido em 1670, da
confraria dos Beati Paoli, criada por nobres para defender a própria
casta. A organização ia contra qualquer tipo de dominação,
o que trouxe a simpatia do povo, permitindo o seu crescimento.
Pouco se sabe sobre a máfia, em grande parte devido à
rigorosa disciplina de seus membros e ao medo imposto aos que sabem
de algo. A Lei do Silêncio brasileira lá é conhecida
como omertà. Quem a infringe se cala para sempre. Na Sicília
ninguém sabe, ninguém viu. As regras que mantêm
a coesão e invisibilidade da organização, às
vezes, são reveladas por alguns mafiosos arrependidos: a hierarquia
é indiscutível, todos devem se ajudar em qualquer situação,
a ofensa a qualquer um dos membros é tomada como ofensa a todos
e o alcagüeta não tem perdão, pode ser liqüidado
por qualquer um a qualquer momento, vingança extensiva a toda
sua família.
Em 1912, quando houve eleição direta na ilha, os mafiosos
tornaram-se os governantes locais e conseguiram internacionalizar
a sociedade secreta, principalmente em direção aos EUA.
Com a primeira grande leva de imigrantes italianos que chegou à
América estava Vito Cascio Ferro, o célebre Don Vito,
que fundou a Mano Nera (Mão Negra) em Nova Orleãs. Em
vista de conquistar presença no novo país, os italianos
se uniram, principalmente contra os judeus, grupo de imigrantes mais
fortes.
Como a maioria era analfabeta e católica, num país em
modernização e de maioria protestante, os oriundi se
distribuíram pelos postos de trabalho braçais, principalmente
nos portos. E foi justo por aí, com a instituição
do pizzu (extorsão cobrada como taxa de proteção
para mercadorias) que a máfia começou a crescer no país
da "liberdade".
Mas foi a instituição, em 1920, da Lei Seca americana,
celebrizada em tantos filmes de gângsteres, que consolidou a
máfia italiana nos EUA. A atividade caseira e secular de transformar
uva em vinho, impulsionou o comércio ilegal de álcool
e, nove anos depois, os chefes regionais em atividade na América
instituíram a criação da Cosa Nostra, como forma
de proibir a entrada de estrangeiros na máfia.
Na década de 30, os mafiosos descobriram o filão das
drogas e, com a Segunda Guerra Mundial, o tráfico de armas,
sempre sob fachadas de negócios lícitos, como investidores
do setor imobiliário ou petrolífero. Os mafiosos também
agiram como agentes duplos, informando tanto o serviço secreto
dos aliados quanto dos países do Eixo. Um fato impressionante
ocorreu quando os EUA precisaram desembarcar na Sicília em
meio à Guerra. O mafioso Lucky Luciano, que estava preso em
Nova York, cumprindo pena de 35 anos por exploração
de prostituição, obteve a redução da pena
para nove anos e os americanos desembarcaram sem problemas em Palermo.
Sempre em busca de negócios lucrativos, a máfia controla
80% das licenças para novas construções em Palermo
e também uma escola, subvencionada por Roma, que tem mil professores
ensinando para dois mil alunos, segundo um relatório da Comissão
Anti-Máfia da Itália, publicado em 1986.
A despeito de ninguém nunca saber nada sobre a sociedade secreta,
a prova patente de que ela existe e é forte perante os governos
e o comércio são as incontáveis mortes desde
a fundação da misteriosa organização.
Suspeita-se de conhecidos políticos, comerciantes e fazendeiros
locais. Mas a maioria dos juízes e testemunhas que ousou desafiá-los,
não está viva ou não conseguiu provas dos crimes.
A lei vigente entre as pessoas que convivem com a organização
continua sendo a mesma, desde os sicilianos mais famosos e respeitados
até o mais humilde agricultor. Ninguém conhece e ninguém
sabe de nada.
Sol de meio-dia
O
litoral da Sicília possui águas transparentes. Os seguidos
derramamentos vulcânicos de rochas de calcário servem como
filtro, dando ao mar siciliano um azul intenso e marcante.
O sul da Itália é conhecido como mezzogiorno (meio-dia),
devido à força do sol e à alta temperatura neste
horário. Os visitantes que chegam durante à tarde nas
cidades menores encontram as ruas desertas e as casas fechadas, como
se estivessem numa cidade abandonada.
Mas não é a toa que os sicilianos reduzem suas atividades
durante a tarde para de noite saírem às ruas. As casas
fechadas impedem a entrada do vento seco e quente durante o dia, preservando
um ambiente fresco no interior. A "estratégia" desenvolvida
serve como proteção contra as baforadas do Siroco, vento
do deserto do Saara que passa pelo norte da África e atinge a
Sicília.
Comer na Sicília
Os ventos africanos também trouxeram as antigas embarcações
dos conquistadores. Com elas, os temperos de diversas regiões,
o que fez da Sicília um ponto de fusão de ingredientes,
aromas e sabores. A fertilidade dos solos vulcânicos atraiu colonizadores
gregos que exportavam azeite, trigo, mel, queijos e frutas para cidades
gregas, como Atenas. Foi daí que a Sicília tornou-se cenário
para que o grego Mithaecus de Siracusa escrevesse, no século
V a.C., Arte de Cozinhar, primeiro livro de culinária de que
se tem notícia.
Depois os árabes introduziram o cultivo dos limões e laranjas,
da berinjela e da cana-de-açúcar. Para degustar o sabor
da ilha é interessante pedir pratos com produtos locais como
peixe-espada, sardinha, pimenta vermelha e pasta de amêndoas.
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