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Italianos mostram força nos EUA
Fundação de ítalo-americanos dita lista de nomes dos embaixadores e pressiona Bush


A influência italiana não se manifesta apenas nos países mais pobres ou em desenvolvimento, como Brasil ou Argentina. Os Estados Unidos, primeira potência mundial, também sofrem influência da Itália, principalmente através da Fundação Nacional Ítalo-Americana (Niaf), a mais importante organização de ítalo-americanos. O lobby da Niaf é tão poderoso que foi uma imposição sua a lista de candidatos para assumir a Embaixada norte-americana em Roma. A condição indispensável para fazer parte da lista é ter origem e sobrenome italianos. O esquema foi mostrado na edição de maio da revista italiana L'Espresso.
No dia 23 de março reuniu-se na sede da Niaf, na 19ª avenida em Washington, a cúpula dos diretores. O assunto principal era a escolha do novo embaixador, que irá administrar os 300 empregados americanos e outros 350 italianos, que representam mais de 30 agências governamentais norte-americanas e três sucursais. Uma semana antes, Frank Guarini, uma espécie de superpresidente, enviara uma carta ao presidente George W. Bush, em protesto pelo fato de a sede da via Veneto estar destinada a Rockwell Schnabel, executivo nascido na Holanda. Guarani, 77 anos, é um poderoso advogado em New Jersey, um estado onde os ítalo-americanos são 20% da população. Ano passado doou 750 mil dólares à Universidade da cidade de Jersey: em troca, a biblioteca será intitulada com seu nome. Ex-deputado do Congresso por sete legislaturas, ele afirma que a guerra da Embaixada pode ser vencida. Também está convencido disso Joseph Cerrell, de 66 anos, presidente da Niaf e seu cérebro político. O californiano Cerrell, como Guarini, é um político e lobbista experiente que conhece todos os meandros de Washington.
No entanto, ambos são democratas (Cerrell trabalhou com John F. Kennedy), atualmente do partido da oposição norte-americana. Assim, para aquela reunião, os líderes democratas da Niaf chamaram os republicanos da organização. "O nome de Schnabel ainda não tinha sido oficializado, portanto havia uma margem de manobra", explicou à L'Espresso Cerrell. Juntos tomaram uma decisão operativa: Patricia de Stacy Harrison e Joseph Del Raso foram encarregados de esclarecer a Bush e ao seu chefe de estado, Clay Johnson, que "seria do interesse do presidente" recuar e deslocar Schnabel para outra sede. Os dois não são personagens que gostam de aparecer em público, mas têm as portas abertas na Casa Branca.
Stacy Harrison, nova-iorquina moradora de Washington, até a pouco era a vice-diretora do Comitê Nacional Republicano, o órgão que conduziu a campanha eleitoral de Bush, com a incumbência de administrar o fundo de doações de campanha. Del Raso, advogado da Filadelfia, é um republicano de longa data. Para os ajudar, foi chamado Dominic Massaro, juiz da Corte Suprema do Estado de Nova York (e amigo de Silvio Berlusconi). E, uma vez que quase todos os 25 milhões de ítalo-americanos são católicos, uma carta a Bush do cardial de Nova York Edward Egan também veio bem a calhar.

Niaf só aceita nomes com origem italiana
Estendendo o elenco dos candidatos, a Niaf enviou a lista à Casa Branca, não sem antes recordar a Bush que daqui a quatro anos há eleições e que a maioria dos ítalo-americanos apóia os republicanos. O primeiro da lista era Charles Cargano, assessor de Economia e Desenvolvimento do estado de Nova York, que ajudou o governador George Pataki a vencer Mario Cuomo, recolhendo 15 milhões de dólares para a campanha. Apesar da fama de bom administrador, Gargano tem uma desvantagem: foi investigado pelo procurador distrital Robert Morgenthau. A investigação foi arquivada, mas todos se recordam de uma história de 1999 que custou a demissão de seu braço direito e ghostwriter, Paolo Palumbo. O elenco prosseguia com Frank Stella, empreendedor de Detroit e criador da aliança entre ítalo-americanos e judeus. É amigo de Luciano Pavarotti e foi conselheiro de todos os presidentes republicanos, de Nixon ao Bush pai.
A lista continuava com Lucio Noto, ex-vice-presidente da Mobil Oil e homem chave da indústria petrolífera, tida em alta consideração por Bush. Depois havia William Martini, republicano de Nova Jersey, ex-deputado do Congresso, e ex-amigo de Newt Gingrich, naquele tempo o guru dos conservadores. Sua desvantagem é que em uma campanha eleitoral usou expressões racistas contra os hispânicos. Fechava a lista o neurologista Kenneth Ciongoli. Considerado o mais brilhante entre os líderes ítalo-americanos, era grande amigo do campeão de beisebol Joe Di Maggio. A sua proposta: aumentar o número de ítalo-americanos nas universidades mais prestigiadas, de Harvard a Yale, aquelas onde se forma a elite que governa o país.
Mas por que para os ítalo-americanos é tão importante ter "um dos seus" como embaixador de Roma? "É uma questão simbólica. E é um direito conquistado há 12 anos. E depois, acontece que na sede da via Veneto deve estar alguém que conhece bem a Itália", responde Guarini. Em coro, Cerrell acrescenta que "somos como os armênios e os judeus: temos um fortíssimo laço com a terra de origem".
Enquanto ainda não se chega a uma conclusão, o militar William P. Pope permanece na Itália como embaixador interino. Ele assumiu a Embaixada de Roma em 7 de setembro de 1999, deixando a Embaixada Americana de Hague, na Holanda, que chefiava desde 1996. Pope, que fala francês, russo, servo-croata e italiano, nasceu em Alexandria, Virginia, e serviu na Agência Previdenciária das Forças Armadas de 1969 a 1970 e continuou como reservista até 1974. Também serviu na Faculdade Nacional de Guerra de 88 a 89 e no curso de treinamento de oficiais do Departamento de Defesa, "Capstone", em 1995.

Guerra contra estereótipos na TV
Para crescerem num país onde muitas vezes são discriminados, os italianos na América aprenderam a dar muito valor à instrução. Por isso, 20% do orçamento anual da organização, de cinco milhões de dólares, são gastos em bolsas de estudo. E os jantares para arrecadar fundos para mais bolsas se repetem a cada semana nas seções locais da Niaf. Os líderes da Fundação também dão muita importância ao que é veiculado na mídia. Protestam contra a maneira que os ítalo-americanos estão representados nela. O último alvo foi a série de TV "The Sopranos", acusada de mostrar estereótipos racistas de italianos mafiosos. Todos se preocupam em assinalar e fichar tudo de positivo e de negativo que se escreve sobre os ítalo-americanos nos jornais. Talvez essas batalhas signifiquem que os italianos não se sintam ainda em casa na América, apesar do sucesso pessoal que muitos vêm obtendo. Como é o caso de Richard Grasso, presidente da maior Bolsa do mundo, a New York Stock Exchange e um dos vice-presidentes da Niaf.


Laboratório da Fiocruz chefiado por italiano faz descoberta capaz de combater meningite

O Laboratório de Bioquímica de Proteínas e Peptídeos do Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz, chefiado pelo genovês Salvatore Giovanni De Simone, desenvolveu um peptídeo (pedaço de proteína) capaz de destruir a bactéria causadora da meningite meningocócica, a Neisseria meningitides. O Poli-Leu, que seria utilizado em forma de spray por via bucal, rompe a parede celular (em poucos segundos) e penetra na membrana formando poros que permitem a liberação do conteúdo citoplasmático, provocando a morte da bactéria. Agora, o laboratório trabalha na substituição da parte central do Poli-Leu por outra substância mais comum e barata, que permita a popularização da descoberta.
Motivado pela descoberta, o laboratório do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular (DBBM), junto com o Instituto de Química e o Centro de Ciências da Saúde, da UFRJ, a UENF e o Departamento de Fisiologia e Farmacodinâmica (também da Fiocruz), está pleiteando recursos de cerca de R$1 milhão na Faperj para o desenvolvimento de uma rede de laboratórios voltados para o estudo de Proteomas, a versão do genoma para as proteínas. "O Proteoma complementa o genoma e ajuda ainda a identificar as proteínas cujos genes (cerca de 30%) são um mistério. O Proteoma pretende desvendar isso através de um amplo trabalho multidisciplinar, que vai contar com profissionais de informática, química, física, biologia e medicina", explica Giovanni De Simone.
De Simone nasceu em Gênova, em 1950, após um vai-e-vem indeciso dos pais entre Itália e Brasil. Após o término da Segunda Guerra (quando todos os homens da família foram enviados para destinos diferentes) e do seu nascimento, a família voltou definitivamente ao Brasil, fugindo da crise econômica da Europa pós-guerra. Seu pai, brasileiro, filho de italianos, trabalhou com obras e também numa fábrica de laticínios no Brasil. Já sua mãe, nascida em San Lutida, na Calábria, seguindo as tradições, se dedicou à família. De Simone graduou-se em biologia pela Uerj, cursou pós-graduação, mestrado e doutorado pela UFRJ e pós-doutorado na Universidade de Nova York.
Paralelamente, os pesquisadores do laboratório, estudando as proteínas de Leishmânia, causadora da Leishmaniose Visceral, isolaram um grupo de moléculas que apresentam propriedades estruturais particulares, diferindo das proteínas de mamíferos e possuem algumas características semelhantes às do HIV. A partir daí, desenhou-se e obteve-se um produto peptídico que ajuda no diagnóstico diferencial da leishmaniose visceral. A doença infecciosa, conhecida como calazar, infectou quase quatro mil brasileiros no ano passado, segundo a Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Ela acomete principalmente nas populações rurais, mas está em fase de franca urbanização. Mais perigosa do que a leishmaniose cutânea (que forma lesões na pele), a visceral afeta o fígado, o baço e a medula óssea, causando crescimento do abdômen, enfraquecimento e febre. Apresenta alto índice de letalidade se não tratada adequadamente.
A estratégia utilizada é semelhante ao que foi desenvolvido para inibir a ação da HIV-protease, que resultou na criação do coquetel anti-Aids, o primeiro no mundo desenvolvido por modelagem molecular. O estudo aprofundado das proteínas de Leishmânia (Proteoma) deverá ser executado em conjunto com pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco, que iniciaram o desenvolvimento do genoma da Leishmânia com financiamento de R$3 milhões do CNPq. "Além disso, estamos terminando de seqüenciar as proteínas-alvos e estudando o desenvolvimento de drogas alternativas, por modelagem molecular (transposição das seqüências para programas de computador e simulações de reações), para que possam inibir a atividade metabólica do parasita", afirma Giovanni.


A FORÇA DA NATUREZA
Uma ilha no coração do mediterrâneo

O mar tem uma cor única e pode ser contemplado ao longo de cerca de um milhão de quilômetros de costa. À primeira vista, a água límpida e as praias desertas de seu recortado litoral encantam o visitante. Mas a Sicília oferece bem mais. Lá coexistem cenários construídos pela natureza dadivosa e vestígios da presença de diferentes povos ao longo dos séculos, fazendo da ilha do sol, do limão e da máfia um privilegiado ponto de encontro entre natureza, tradição e arquitetura.
Destino de turistas do mundo inteiro, a Sicília conta com uma variada herança histórica e cultural, deixada por gregos, romanos, vândalos, ostrogodos, bizantinos, árabes, normandos, espanhóis e franceses. As invasões do passado influenciaram a língua, as danças, as festas, a culinária e o artesanato. Por isso, em toda parte, o visitante se depara com a antigüidade, sendo possível vivenciar mais de 2500 anos de história e mistérios.
Além da variedade cultural, os contrastes físicos e geológicos também impressionam. A natureza desenhou magníficas costas rochosas, planaltos com cultivo de oliveiras de mais de dois mil anos e um clima bastante ameno, se comparado ao do resto da Europa. Em contrapartida, encravou, no noroeste da ilha, um vulcão, o Etna, que, de tempos em tempos, provoca a destruição de cidades e plantações com suas erupções. Mas também desenha lindas paisagens com sua lava solidificada, oferecendo um espetáculo de imagens.
É difícil estimar o número de visitantes que chegam no verão siciliano. Só os italianos são mais de 6,5 milhões. Nesta época, as atividades culturais como festivais de música, cinema, shows e programações especiais de cidades e hotéis agitam a ilha. É também no verão que ocorrem as principais festas folclóricas, com desfiles de roupas tradicionais, procissões e feiras.

A porta é Messina
Para se chegar à ilha pega-se uma balsa em Reggio di Calábria e atravessa-se o estreito de Messina, que separa a Sicília do continente por apenas três quilômetros. A cidade que deu nome ao estreito é a principal porta de chegada dos europeus e ficou famosa pelo impetuoso terremoto que a arrasou, em 1908. Reurbanizada, Messina ainda lembra a tragédia que atingiu mais de 60 mil pessoas.
Nesta província se encontra Taormina, um dos balneários mais famosos de toda Europa. A cidade é conhecida ainda por receber o Festival Internacional de Cinema, um dos mais prestigiosos da sétima arte, durante o mês de agosto. Outra atração, no caminho para Catânia, é o preservado teatro grego do século 3 a.C., de onde se pode ter uma espetacular vista do mar com o monte Etna ao fundo.

Catânia é fértil
Na base do vulcão Etna, a cidade aprendeu a conviver com o fascínio e o temor pelo maior vulcão ativo da Europa. Além das constantes invasões que passaram pela cidade, Catânia é marcada pelos freqüentes terremotos e derramamentos de lava do Etna. Agora mesmo, suas erupções têm causado pavor e um rio de lava se aproxima ameaçando a população. Mas também oferece um espetáculo a cada dia, e muitos são os turistas que querem ver de perto. Em dias mais tranqüilos, pode-se subir à montanha do Etna, que hoje é parque regional, até a cratera, de onde se observa sua força e imponência. Durante o percurso é possível visitar algumas cavernas que se formaram devido à cristalização das lavas provenientes das erupções que se deram através dos séculos. Com sorte, aproxima-se da lava, ou ainda observa-se a neve eterna formada dentro de cortes profundos e conservada pela altitude dentro de verdadeiros frigoríficos naturais. As vilas nos arredores do vulcão ficaram famosas pela fertilidade de suas terras, onde se encontram vinhos com sabores incomparáveis.
Mas Catânia é uma das maiores e mais agitadas cidades sicilianas, menor apenas que a capital Palermo. A cidade é considerada a Milão da Sicília pela prosperidade e os muitos negócios.
Assim como Messina, ela sofreu um forte terremoto em 1697. O trauma para os cateneses da época foi tão profundo que até hoje é possível encontrar placas da época na cidade lembrando o acontecimento e alertando os habitantes de hoje sobre o perigo.
Foi esse mesmo evento tão forte que também marcou a profunda devoção dos habitantes da cidade. Todos os anos, na primeira semana de fevereiro, se realiza a festa de Sant'Agata, que segundo estudiosos italianos, é uma versão cristã do mito antigo Isis. A procissão, uma das maiores e mais tradicionais da Itália, é vista como uma forma de mostrar devoção à santa da cidade e pedir proteção contra o Etna e os terremotos.

Palermo numa concha
Embora nunca tenha sido ocupada pelos gregos, a origem do nome da cidade vem do grego Panormos (porto de todos). Desde sua fundação, pelos fenícios, a capital siciliana sempre foi um disputado entreposto comercial do mediterrâneo.
Palermo fica em um anfiteatro natural chamado Conca d'Oro (Concha de Ouro), protegida entre os montes Pellegrino e Alfano. É marcada por uma interessante mistura de traços europeus e orientais, com a presença de estilos árabe, normando e barroco. A capital, com 730 mil habitantes, tem como centro o antigo porto de La Cala, hoje transformado em três marinas de onde se pode ter uma bela vista da baía. A cidade antiga fica um pouco afastada do litoral, onde antigamente o mar chegava.
Uma boa pedida é conhecer as igrejas da cidade construídas nos mais diversos estilos. No Palazzo Reale, também conhecido como Palazzo dei Normani, a construção iniciada pelos árabes foi a residência dos dominadores normandos e sede do poder na Sicília desde a dominação bizantina até hoje. Ao lado do palácio está a Cappella di Ruggero, construída em 1134, com a incrível mistura de mosaicos bizantinos, arquitetura árabe e normanda.
Um lugar impressionante em Palermo são as Catacumbas dos Capucinos, não indicadas a quem tem medo de lugares sombrios. Nas suas numerosas galerias subterrâneas estão pelo menos oito mil cadáveres de pessoas ilustres que viveram entre os séculos 17 e 19. Muitos estão reduzidos a esqueletos. Outros, mumificados, permanecem lado a lado, alguns sentados, alguns de pé. A maior parte veste ainda as roupas de gala que trajavam em vida.
Não há nenhum produto químico especial que impeça a decomposição. Os cadáveres se mantêm em bom estado por causa do sistema natural de ventilação das galerias. No passado, a distração dos palermitanos, aos domingos, era visitar os entes queridos nas catacumbas para verificar se continuavam inteiros. Os cadáveres que não resistiam ao tempo eram recompostos pacientemente por meio de arames e envoltos em panos brancos. Por causa desses cuidados, muitos cadáveres do século 19 estão em excelente estado, com as roupas praticamente intactas.

Arredores de Palermo
Mondello pode ser considerada a praia de Palermo (em torno de 10 km) e também um dos mais conhecidos resorts da Sicília, com vista para um castelo mouro do século 10, na pequena cidade vizinha de Carini.
Localizadas acima da praia de Addàura, no Monte Pellegrino, que desce até Punta di Priola, e meio escondidas entre o verde, estão as grutas de Addàura, cavernas de grande interesse paleontológico. Notam-se figuras humanas e de animais desenhadas nas paredes, datadas do período Paleolítico.
Se o visitante se estender um pouco mais pela rodovia estadual, há uns 12km de Carini, passando por Punta Ràise, encontrará Terrasini, cidade com 10 mil habitantes que vive de pesca e agricultura. Lá se encontra o Museo Civico, dividido em três seções: história natural, arqueologia e etno-antropologia, que inclui o museu de carros da Sicília.

Agrigento é a cidade dos templos
O nome da cidade mais ao Sul da Itália vem do antigo nome grego Akgras. Sobre a opulência da cidade e a fartura dos cidadãos, Empédocles escreveu: "os agrigentinos constróem templos como se não morressem nunca e comem como se fossem morrer no dia seguinte". As marcas deste passado pujante podem ser vistas até hoje no impressionante Vale dos Templos, um conjunto arquitetônico onde se concentram imponentes construções capazes de transportar ao cenário de 2500 anos atrás.
São vários templos, com histórias e características diferentes. A principal referência de todo o sítio arqueológico agrigentino é o templo da Concórdia, o monumento mais bem conservado de toda a Magna Grécia, edificado no século 5 a.C. Outro que esbanja opulência é o Templo de Giove Olimpico, um imenso edifício erguido sob a ordem do ditador Terone. Tinha uma superfície de 6340 metros quadrados, e foi certamente uma das construções dóricas mais grandiosas da época. O Templo de Eracle é o mais antigo entre os construídos em Akgras, datado de 520 a.C. Ocupa uma área de cerca de 1700 metros quadrados, inferior somente ao imenso Giove Olimpico. O de Esculapio, dedicado ao deus da medicina, já foi rota de peregrinação dos enfermos e sofredores. Da praça Marconi é possível admirar todo o vale sobre o horizonte azul do Mediterrâneo.
Outras obras arquitetônicas dão testemunho do passado. A província de Eraclea Minoa constitui um parque arqueológico fascinante, onde é possível contemplar o anfiteatro grego que remonta ao século 4 a.C. Nas construções, observam-se várias fases da arte na era cristã, como a Igreja Medieval de Santa Maria dos Gregos, erguida por volta do século 13, a Basílica de São Francisco de Assis, do período Barroco, e o Palácio do Relógio, em estilo gótico, datado de 1851, onde funciona a atual sede da Câmara de Comércio.
O poeta Pindaro classificou Agrigento como a mais bela cidade dos mortais. Não bastassem os monumentos e a atividade cultural e artística intensa, ela também oferece praias paradisíacas que, como tudo mais, deixam os visitantes maravilhados.

Siracusa, onde nasceu a máfia
Mais poderosa e importante cidade da Grécia entre os séculos 5 e 3 a.C., Siracusa é famosa por ser sede da máfia, que defende os interesses de um grupo e se sustenta à base de ações ilegais. A origem mais provável é a do árabe mahfal (reunião de muitas pessoas) e de mahyas (proteger, defender alguém de alguma coisa).
Segundo os historiadores, a máfia teria surgido em 1670, da confraria dos Beati Paoli, criada por nobres para defender a própria casta. A organização ia contra qualquer tipo de dominação, o que trouxe a simpatia do povo, permitindo o seu crescimento.
Pouco se sabe sobre a máfia, em grande parte devido à rigorosa disciplina de seus membros e ao medo imposto aos que sabem de algo. A Lei do Silêncio brasileira lá é conhecida como omertà. Quem a infringe se cala para sempre. Na Sicília ninguém sabe, ninguém viu. As regras que mantêm a coesão e invisibilidade da organização, às vezes, são reveladas por alguns mafiosos arrependidos: a hierarquia é indiscutível, todos devem se ajudar em qualquer situação, a ofensa a qualquer um dos membros é tomada como ofensa a todos e o alcagüeta não tem perdão, pode ser liqüidado por qualquer um a qualquer momento, vingança extensiva a toda sua família.
Em 1912, quando houve eleição direta na ilha, os mafiosos tornaram-se os governantes locais e conseguiram internacionalizar a sociedade secreta, principalmente em direção aos EUA. Com a primeira grande leva de imigrantes italianos que chegou à América estava Vito Cascio Ferro, o célebre Don Vito, que fundou a Mano Nera (Mão Negra) em Nova Orleãs. Em vista de conquistar presença no novo país, os italianos se uniram, principalmente contra os judeus, grupo de imigrantes mais fortes.
Como a maioria era analfabeta e católica, num país em modernização e de maioria protestante, os oriundi se distribuíram pelos postos de trabalho braçais, principalmente nos portos. E foi justo por aí, com a instituição do pizzu (extorsão cobrada como taxa de proteção para mercadorias) que a máfia começou a crescer no país da "liberdade".
Mas foi a instituição, em 1920, da Lei Seca americana, celebrizada em tantos filmes de gângsteres, que consolidou a máfia italiana nos EUA. A atividade caseira e secular de transformar uva em vinho, impulsionou o comércio ilegal de álcool e, nove anos depois, os chefes regionais em atividade na América instituíram a criação da Cosa Nostra, como forma de proibir a entrada de estrangeiros na máfia.
Na década de 30, os mafiosos descobriram o filão das drogas e, com a Segunda Guerra Mundial, o tráfico de armas, sempre sob fachadas de negócios lícitos, como investidores do setor imobiliário ou petrolífero. Os mafiosos também agiram como agentes duplos, informando tanto o serviço secreto dos aliados quanto dos países do Eixo. Um fato impressionante ocorreu quando os EUA precisaram desembarcar na Sicília em meio à Guerra. O mafioso Lucky Luciano, que estava preso em Nova York, cumprindo pena de 35 anos por exploração de prostituição, obteve a redução da pena para nove anos e os americanos desembarcaram sem problemas em Palermo.
Sempre em busca de negócios lucrativos, a máfia controla 80% das licenças para novas construções em Palermo e também uma escola, subvencionada por Roma, que tem mil professores ensinando para dois mil alunos, segundo um relatório da Comissão Anti-Máfia da Itália, publicado em 1986.
A despeito de ninguém nunca saber nada sobre a sociedade secreta, a prova patente de que ela existe e é forte perante os governos e o comércio são as incontáveis mortes desde a fundação da misteriosa organização. Suspeita-se de conhecidos políticos, comerciantes e fazendeiros locais. Mas a maioria dos juízes e testemunhas que ousou desafiá-los, não está viva ou não conseguiu provas dos crimes. A lei vigente entre as pessoas que convivem com a organização continua sendo a mesma, desde os sicilianos mais famosos e respeitados até o mais humilde agricultor. Ninguém conhece e ninguém sabe de nada.

Sol de meio-dia
O litoral da Sicília possui águas transparentes. Os seguidos derramamentos vulcânicos de rochas de calcário servem como filtro, dando ao mar siciliano um azul intenso e marcante.
O sul da Itália é conhecido como mezzogiorno (meio-dia), devido à força do sol e à alta temperatura neste horário. Os visitantes que chegam durante à tarde nas cidades menores encontram as ruas desertas e as casas fechadas, como se estivessem numa cidade abandonada.
Mas não é a toa que os sicilianos reduzem suas atividades durante a tarde para de noite saírem às ruas. As casas fechadas impedem a entrada do vento seco e quente durante o dia, preservando um ambiente fresco no interior. A "estratégia" desenvolvida serve como proteção contra as baforadas do Siroco, vento do deserto do Saara que passa pelo norte da África e atinge a Sicília.

Comer na Sicília
Os ventos africanos também trouxeram as antigas embarcações dos conquistadores. Com elas, os temperos de diversas regiões, o que fez da Sicília um ponto de fusão de ingredientes, aromas e sabores. A fertilidade dos solos vulcânicos atraiu colonizadores gregos que exportavam azeite, trigo, mel, queijos e frutas para cidades gregas, como Atenas. Foi daí que a Sicília tornou-se cenário para que o grego Mithaecus de Siracusa escrevesse, no século V a.C., Arte de Cozinhar, primeiro livro de culinária de que se tem notícia.
Depois os árabes introduziram o cultivo dos limões e laranjas, da berinjela e da cana-de-açúcar. Para degustar o sabor da ilha é interessante pedir pratos com produtos locais como peixe-espada, sardinha, pimenta vermelha e pasta de amêndoas.